
Nem toda vitória vem em forma de revolução. Às vezes, elas chegam em passos pequenos, mas poderosos — especialmente quando se trata de instituições milenares como a Igreja Católica. Hoje, com a notícia do falecimento do Papa Francisco, sentimos que é tempo de olhar para trás com gratidão por alguns caminhos que ele abriu — inclusive para quem, por tanto tempo, se sentiu fora.
A Igreja Católica é, historicamente, uma instituição conservadora. Para a população LGBTQIA+, especialmente para pessoas trans, a relação com a fé, com os símbolos religiosos e com o acolhimento espiritual nem sempre foi simples. Muitas vezes, foi marcada por dor, silêncio ou exclusão. Mas, com o Papa Francisco, algo começou a mudar.
Desde o início de seu pontificado, em 2013, Francisco buscou imprimir um tom mais compassivo e acolhedor. Em vez de julgamentos, ele preferiu perguntas: “Quem sou eu para julgar?”, disse em uma das declarações mais conhecidas sobre pessoas LGBTQIA+. Mas seus passos foram além das palavras.
No livro Spera (2023), sua autobiografia, ele afirmou com clareza: “Na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais.” Essa inclusão, ainda que simbólica, tem impacto profundo na vida de quem cresceu ouvindo o contrário.
Em diversas ocasiões, o Papa recebeu mulheres trans no Vaticano, conversou, ouviu, abençoou. Disse com todas as letras que essas pessoas são “filhas de Deus” e que “Deus nos ama como somos”. Chegou a autorizar oficialmente que pessoas trans fossem batizadas, atuassem como padrinhos/madrinhas e testemunhas de casamento, desde que não gerassem escândalo público — algo impensável poucos anos atrás.
Na pandemia, quando muitas mulheres trans migrantes em Roma estavam em situação de vulnerabilidade, foi a Igreja — com o aval do Papa — que ajudou com alimento e abrigo. Isso não apaga o conservadorismo que ainda impera em boa parte das estruturas eclesiásticas, mas mostra que existe espaço para acolhimento e transformação.
Aqui na Avant Saúde, olhamos com carinho e respeito para esse legado. Sabemos que espiritualidade e saúde caminham juntas. Para muitas pessoas trans e LGBTQIA+, a fé continua sendo um lugar de força — mesmo quando o acolhimento institucional ainda está em construção. E, quando um líder espiritual do tamanho do Papa Francisco dá passos nessa direção, vale reconhecer.
A história ainda está sendo escrita. Mas hoje, a gente pausa. Com gratidão. Com respeito. E com a esperança de que mais passos virão.
Descanse em paz, Papa Francisco. Que sua semente de acolhimento floresça em muitos corações.