
Introdução
No processo de transição hormonal, mulheres trans geralmente utilizam estrógeno e antiandrogênicos, o que pode reduzir a massa magra e favorecer maior acúmulo de gordura. Já homens trans utilizam testosterona, que aumenta massa muscular e gasto energético.
Diante dessas mudanças, a ingestão adequada de proteínas de alta qualidade é essencial para manutenção e ganho de massa magra, suporte imunológico, recuperação muscular e saúde metabólica
(HEMBREE et al., 2017; WPATH, 2022).
Surge então a dúvida: o whey protein pode ser um aliado nesse processo?
O que é o Whey Protein?
O whey protein é a fração proteica extraída do soro do leite durante a fabricação de queijos. É considerado uma proteína completa, pois contém todos os aminoácidos essenciais, além de ser particularmente rico em leucina, um aminoácido chave para estimular a síntese proteica muscular
(PHILLIPS, 2014).
Possui rápida digestão e absorção, sendo altamente eficaz para estimular a recuperação muscular após o exercício e contribuir para o aumento da massa magra
(KREIDER et al., 2017).

Tipos de Whey Protein
Existem diferentes tipos de whey protein disponíveis no mercado, que variam de acordo com o processo de filtração e a composição final:
•WHEY CONCENTRADO: contém em média 70–80% de proteína, além de carboidratos (lactose) e pequenas quantidades de gordura. É o tipo mais comum e acessível, indicado para a maioria das pessoas sem restrições alimentares.
• WHEY ISOLADO: passa por um processo de purificação que remove quase toda a lactose e gordura, resultando em >90% de proteína. É uma opção interessante para pessoas com intolerância à lactose.
• WHEY HIDROLISADO: sofre hidrólise enzimática, quebrando as proteínas em peptídeos menores, o que facilita e acelera a digestão e a absorção. Pode ser útil em situações que exigem absorção rápida ou em pessoas com maior sensibilidade digestiva.
• WHEY NATIVO: extraído diretamente do leite fresco (não do soro da fabricação de queijo), preserva maior quantidade de aminoácidos bioativos e pode apresentar melhor qualidade nutricional.
Todas as formas de whey fornecem proteínas de alta qualidade, mas a escolha depende da tolerância individual, objetivos nutricionais e condições clínicas (KERSICK et al., 2018).
Benefícios Gerais da Suplementação com Whey Protein
• Síntese proteica muscular: promove maior estímulo à hipertrofia em comparação a outras proteínas (PHILLIPS, 2014).
• Recuperação: acelera reparo muscular após treinos intensos.
• Controle de peso: pode ajudar na saciedade, auxiliando no manejo da composição corporal (KERSICK et al., 2018).
• Saúde metabólica: melhora sensibilidade à insulina e perfil lipídico em alguns contextos (KERSICK et al., 2018).
Mulheres Trans
O uso de estrógeno e antiandrogênicos pode levar à redução da massa muscular e alterações na composição corporal.
O whey protein pode ser um recurso eficaz para manutenção e estímulo da massa magra, além de apoiar saúde óssea e metabolismo energético, reduzindo parte dos efeitos adversos do tratamento hormonal (HEMBREE et al., 2017).
Recomendação prática
• O consumo diário total de proteína deve ser de 1,4–2,0 g/kg/dia (IOM, 2005; KREIDER et al., 2017).
• O whey protein pode ser utilizado como complemento para atingir esse valor, especialmente em pessoas com dificuldade de alcançar a meta proteica apenas pela alimentação.
• Uma dose típica de whey fornece 20–30 g de proteína, o que corresponde a cerca de 15–20% da meta proteica diária em uma pessoa de 70 kg.
Homens Trans
A testosterona estimula síntese proteica e aumento da massa muscular. O whey protein pode potencializar esses efeitos, favorecendo ganhos de força e hipertrofia.
Além disso, pode auxiliar na recuperação após treino e na melhora do equilíbrio metabólico (IRWIG, 2017; KERSICK et al., 2018).
Recomendação prática
• A meta proteica também é de 1,4–2,0 g/kg/dia (IOM, 2005).
• O whey protein é especialmente útil no pós-treino, consumido em torno de 20–30 g por dose, fornecendo rápida absorção de aminoácidos (PHILLIPS, 2014).
Conclusão
O whey protein não é obrigatório, mas pode ser uma ferramenta prática e eficaz para garantir ingestão proteica adequada durante a transição hormonal.
Para mulheres trans, auxilia na manutenção da massa magra frente às alterações induzidas pelo estrógeno e antiandrogênicos. Para homens trans, potencializa os efeitos anabólicos da testosterona, otimizando ganho de força e músculo.
A escolha do tipo de whey (concentrado, isolado, hidrolisado ou nativo) depende da tolerância individual, do objetivo e das condições clínicas.
Assim como qualquer suplemento, o uso deve ser individualizado, de acordo com metas nutricionais, rotina de treinos e acompanhamento profissional (HEMBREE et al., 2017; WPATH, 2022).
Referências (ABNT)
• HEMBREE, W. C. et al. Endocrine treatment of gender-dysphoric/gender-incongruent persons. J Clin Endocrinol Metab, v. 102, n. 11, p. 3869–3903, 2017.
• INSTITUTE OF MEDICINE (IOM). Dietary Reference Intakes (DRIs) for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Protein, and Amino Acids. Washington, DC: National Academies Press, 2005.
• IRWIG, M. S. Testosterone therapy for transgender men. Lancet Diabetes Endocrinol, v. 5, n. 4, p. 301–311, 2017.
• KERSICK, C. M. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: protein and exercise. J Int Soc Sports Nutr, v. 15, n. 38, 2018.
• KREIDER, R. B. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine and protein supplementation. J Int Soc Sports Nutr, v. 14, n. 18, 2017.
• PHILLIPS, S. M. A brief review of critical processes in exercise-induced muscular hypertrophy. Sports Medicine, v. 44, p. 71–77, 2014.
• WPATH. Standards of Care for the Health of Transgender and Gender Diverse People, Version 8. Int J Transgender Health, v. 23, supl. 1, p. S1–S259, 2022.