Durante a transição hormonal, um dos exames mais importantes para homens trans é a dosagem da testosterona total no sangue. Esse exame ajuda a garantir que os níveis hormonais estejam adequados para o bem-estar e os efeitos desejados da hormonização. Mas muita gente se pergunta: qual o melhor horário para fazer esse exame? E por que os valores podem variar tanto?
A testosterona varia ao longo do dia?
Sim! A testosterona apresenta uma variação natural no nosso corpo conhecida como variação diurna. Em quem não utiliza testosterona de forma externa (como injeções ou gel), os níveis costumam ser mais elevados nas primeiras horas da manhã — atingindo o pico entre 6h e 10h — e diminuem gradualmente ao longo do dia.

Em homens cisgêneros, essa diferença pode chegar a 30% ou mais entre a manhã e o fim da tarde (ROSNER et al., 2007). No caso dos que utilizam testosterona, principalmente via intramuscular (como o undecilato de testosterona ou o cipionato), essa flutuação tende a ser menor, mas ainda pode ocorrer dependendo da fase do ciclo da aplicação.
Quando é o melhor horário para coletar o exame?
A recomendação geral é que o exame de testosterona seja coletado pela manhã, preferencialmente entre 7h e 10h, especialmente para evitar leituras artificialmente baixas (SAHIN et al., 2022). Esse horário é considerado o mais fiel para avaliar se os níveis estão dentro da meta desejada — que, para homens trans em tratamento, geralmente fica entre 300 e 1000 ng/dL, dependendo da fase da aplicação e da individualidade biológica.
Se o exame for feito em outro horário, como no meio da tarde ou à noite, é esperado que o valor esteja mais baixo, sem necessariamente indicar que há um problema com o tratamento.
Por que os exames podem dar resultados diferentes?
Além do horário, outros fatores podem interferir:
O tipo de testosterona usada: cipionato e enantato têm picos e quedas mais marcados, enquanto o undecilato é mais estável.
O momento da aplicação: fazer o exame logo após a aplicação pode mostrar um pico que não representa a média.
Laboratórios diferentes podem usar métodos de análise distintos, causando variações.
O uso de géis ou implantes hormonais tende a apresentar flutuações menores, mas também precisa de acompanhamento.
Qual a orientação ideal?
- Faça o exame sempre no mesmo horário, preferencialmente pela manhã.
- Informe ao médico o dia da sua aplicação em relação ao dia do exame.
- Evite comparar resultados de laboratórios diferentes.
- Sempre envie o exame para seu médico avaliar o conjunto de sintomas + resultado, nunca apenas o número isolado.
Lembre-se: testosterona ideal não é só número — é saúde, bem-estar e segurança no tratamento.
Referências (ABNT)
ROSNER, W. et al. Position statement: utility, limitations, and pitfalls in measuring testosterone: an Endocrine Society position statement. Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 92, n. 2, p. 405–413, 2007.
SAHIN, C. M. et al. Circadian rhythms in hormone release: the testosterone example. Endocrine Reviews, v. 43, n. 3, p. 332–348, 2022.
WORLD PROFESSIONAL ASSOCIATION FOR TRANSGENDER HEALTH (WPATH). Standards of Care for the Health of Transgender and Gender Diverse People, version 8. Elgin, IL: WPATH, 2022.
DEUTSCH, M. B. Guidelines for the primary and gender-affirming care of transgender and gender nonbinary people. Center of Excellence for Transgender Health, 2ª ed., 2016.